Vamos à vida que a morte não bate à porta
O despertador tocou cedo. Eram horas de se levantar para ir trabalhar. Foi à cozinha bebeu um copo de água, abriu a porta e observou o relvado que tinha sido cortado na véspera. Aquele verde era relaxante para os olhos, mas tinha custado uma hora de esforço. O céu estava encoberto e caía o orvalho matinal próprio daqueles dias. Os cantos repetidos dos pássaros ajudavam a despertar. Não se via vivalma.
Era hora de cuidar da vida, porque a morte não bate à porta. De tempos a tempos, era assaltado pela partida de mais uma pessoa, fosse familiar, amigo, colega de trabalho ou figura pública, o que o levava a pensar que a vida tem um fim. O fim da vida pode ser determinado por uma doença ou por um acidente. Os acidentes e as doenças súbitas causam sempre um sentimento de incompreensão e de injustiça, mas nunca de aceitação. Saber aceitar talvez seja a solução para muitas questões da humanidade, assim saber cuidar dos vivos.
Muitas das vezes as reacções de tristeza e de pesar sobre quem parte, levam a pensar no sentido da vida.
Aquilo que caracteriza a raça humana, para além do instinto de sobrevivência comum a todas as formas de vida, é a atribuição do significado da vida e do amor. O ritmo de vida imposto, não deixa espaço para pensar sobre a missão na terra, não deixa escutar o coração, ao ponto de criar pânico sobre a morte. A sensação de angústia provocada pelos planos ainda não concretizados, pelas elevadas expectativas de vida a atingir, conduzem à ansiedade.
Porque a raça humana ainda não aprendeu a valorizar a beleza da natureza, de uma flor, de um sorriso, de um abraço ou de uma palavra.
Porque se oferecem mais flores à morte, do que à vida?
A primeira pandemia do século XXI veio introduzir alterações a esta ordem de prioridades. O confinamento veio dar espaço para que as famílias ou residentes no mesmo espaço, se aproximassem. Surgiram novas formas de trabalho e a noção de vida no bairro, voltou a ganhar importância.
Se cada minuto do presente contasse, talvez a vida ganhasse novo alento.
25 de Junho de 2020
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